Conheça a história de Dona Pureza, uma mãe maranhense que enfrentou sozinha um perigoso sistema de escravidão moderna em busca de seu filho.
Pureza Lopes Loyola, mãe de cinco filhos, era uma mulher humilde que trabalhava como oleira na cidade de Bacabal, no Maranhão, para sustentar sua família. Conhecida como Dona Pureza, ela entrou para a história ao combater uma rede de trabalho análogo à escravidão em uma busca perigosa e incansável por seu filho caçula, Abel, que desapareceu após sair de casa para trabalhar em um garimpo.
Mãe solo e evangélica, Dona Pureza aprendeu a ler aos 40 anos de idade para realizar seu sonho de ler a Bíblia. Com a Bíblia nas mãos e a foto de seu filho Abel, a maranhense deixou sua casa para empreender uma jornada até a Amazônia, com o objetivo de encontrar e trazer seu filho de volta para casa.
Pureza se infiltrou como cozinheira em uma das fazendas, onde acreditava que Abel estivesse, e foi assim que testemunhou um sistema perverso de aliciamento de trabalhadores para o desmatamento de mata nativa visando o cultivo de gado.
Dona Pureza se tornou amiga, mãe e confidente de muitos trabalhadores escravizados, que eram submetidos a uma jornada desumana de trabalho e a um esquema cruel de retenção de documentos de identidade pelos empregadores, configurando um sistema de cárcere privado. Isolados e sem nenhum tipo de amparo, esses trabalhadores eram vítimas de uma rede cruel de dívidas nas vendas das fazendas, sendo forçados a pagar uma prestação de contas sem fim que lhes privava de seus salários.
Atuação de Pureza no desmonte do sistema de trabalho escravo
Após conseguir fugir de uma das fazendas onde trabalhava e com a ajuda da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Pureza foi a Brasília, onde denunciou tudo o que viu. No entanto, não recebeu nenhum tipo de apoio das autoridades competentes, que alegaram falta de provas. Então, em um ato de coragem e desespero, a maranhense voltou às fazendas apenas com uma câmera nas mãos e, em um gesto heroico, coletou depoimentos e registrou em fotos a situação dos trabalhadores que até então eram invisíveis para a justiça.
De volta a Brasília, com um dossiê de provas, Dona Pureza conseguiu a visibilidade que desejava. Graças ao seu trabalho, em 1995 foi criado o primeiro grupo especial móvel de fiscalização, que atua para garantir a aplicação da lei e dos direitos trabalhistas em todo o território nacional. Esse grupo é responsável por atuar nas fazendas e libertar milhares de trabalhadores do sistema de trabalho análogo à escravidão.
Em 15 de junho de 2023, Pureza Lopes recebeu das mãos do governo dos Estados Unidos da América, em Washington, o prêmio internacional “Heróis no Combate ao Tráfico”, por sua contribuição no combate à escravidão e ao tráfico de pessoas. Dona Pureza foi a primeira mulher brasileira a receber essa condecoração. A maranhense também foi homenageada no filme intitulado “Pureza”, com direção de Renato Barbieri e com a atriz Dira Paes interpretando de forma muito realista seu papel nessa história emocionante.
A busca de Pureza por seu filho teve um final feliz. Ela conseguiu reencontrá-lo após três anos de uma busca incansável. Abel era mantido em uma fazenda, exercendo trabalho escravo no interior da cidade do Pará. Atualmente, Dona Pureza vive na cidade de Bacabal ao lado de sua família. Ela se tornou um exemplo do poder de uma mulher, da coragem e do amor de uma mãe, que é capaz de enfrentar todos os perigos por um filho.