Nesse bate-papo com o atleta Caio Almeida descobrimos um pouco mais sobre suas conquistas, desafios nesse esporte e sonhos de vida dentro e fora do tatame.
O atleta Caio Almeida, uma das maiores referências do Jiu-Jitsu no Brasil, dividiu com a gente um pouco de sua história e como o esporte mudou o rumo de sua vida. Atleta e professor, ele é dono de um dos nomes mais respeitados no universo do tatame, e não é para menos, além de ser Tricampeão Mundial de Jiu-Jitsu, ele também é empreendedor e montou a academia Almeida Jiu-Jitsu. Hoje, uma das maiores equipes da modalidade no país.
Caio e Desirre, sua esposa e companheira de tatame, desenvolveram sozinhos, um trabalho incrível de acolhimento e suporte para novos atletas, que não possuem a oportunidade em suas cidades de se desenvolver nesse esporte. O projeto conta atualmente com cinco unidades que acolhem e fornecem todo o apoio necessário a esses jovens lutadores de várias partes do país. Graças ao seu trabalho em conjunto com sua equipe, esses futuros atletas recebem a formação necessária para se tornarem grandes nomes do Jiu-Jitsu.
A ComoAmo tem muito orgulho de iniciativas como essa e ainda mais orgulho de fazer parte da dieta desses guerreiros. Queremos dividir essa entrevista com o atleta que não desistiu de seus sonhos e inspira e acolhe jovens para o futuro deste esporte.
Conte um pouco sobre como o Jiu-Jitsu entrou na sua vida, seus principais desafios, derrotas e conquistas?
O jiu-jitsu entrou na minha vida quando eu era pré-adolescente. Eu gostava muito de jiu-jitsu. Lembro que minha mãe me deixava ir à locadora alugar um filme todo final de semana e sempre alugava UFC 1, 2 e 3, e gostava de assistir a família Gracie lutando também.
Um dia, fui convidado por um amigo para treinar no projeto social na Cohab 2 em Itaquera, em São Paulo. Dali para frente, foi só alegria e não parei mais. Hoje, aos 38 anos de idade, sou um profissional de jiu-jitsu. Comecei um projeto social e não só transformei a minha vida como também sou um instrumento de transformação na vida de muitos aqui.
Na minha carreira, o principal desafio foi ter apoios. O esporte não era grande, eu não era grande, a minha equipe não era grande, então não era algo real poder viver do esporte e poder viver do jiu-jitsu.
Enquanto muitos procuravam um trabalho de carteira assinada ou um estágio, a única coisa que eu procurava era treinar para poder viver da luta, e era algo que eu sonhava, mas não conhecia ninguém que vivia da modalidade. Então, acho que um grande desafio era ter o apoio necessário dentro e fora de casa.
Como nasceu o projeto da Casa dos Atletas? Conta pra gente como funciona esse apoio aos atletas de fora de São Paulo?
O projeto Casa dos Atletas foi algo que aconteceu, não foi algo que calculamos no início. Foi chegando um atleta do interior de São Paulo, e passando um tempo, chegava outro querendo treinar e pedindo nossa ajuda. A gente foi cedendo o espaço e recebendo as pessoas, e quando eu menos percebi, já tínhamos atletas de outros estados treinando conosco.
Os anos foram passando, e esses atletas foram embora, tenho um atleta dessa levada que hoje mora em Abu Dhabi e dá aulas de jiu-jitsu lá. Foi quando resolvemos, a Deise (esposa de Caio) e eu, nesse novo formato, alugar uma casa e dar oportunidade para novos atletas. Então, essa casa em que estamos agora é um projeto que nós pensamos em fazer, mas lá no início não. Foi algo que aconteceu.
Hoje, temos cinco unidades, não vou mentir que eu precisaria de, no mínimo, o dobro do valor que tenho para manter a grande demanda. Os principais eventos são fora do país, para lutar os campeonatos é muito caro, mas a gente tem alguns apoios, e estamos conseguindo fazer um bom trabalho. Dentre tantos, acho que o maior trabalho que a gente faz é a formação do caráter deles.
Por isso, sigo procurando apoio e padrinhos para poder custear todos esses gastos, tais como inscrição de campeonato, viagens, hospedagens, alimentação e por aí vai.
Qual é o objetivo ou sonho da sua carreira que ainda deseja conquistar?
O sonho da minha carreira sempre foi ser campeão mundial e hoje sou Tricampeão mundial, muito satisfeito. Agora meu sonho é ser tetra. Eu sempre quero mais!
Hoje, meu sonho é com a equipe. Como atleta, quero vencer novamente o mundial e me manter entre os melhores atletas do Brasil e do mundo e formar campeões mundiais.
Formar esses meninos e fazer com que eles vençam, e fazer com que eles sejam campeões mundiais, tenham suas academias e consigam sustentar suas famílias através do esporte. Este é um grande sonho: colocar nossa equipe para ser uma das melhores do mundo.
Qual o principal aprendizado que o esporte exerceu e exerce na sua vida?
São muitos, mas uma coisa que meu pai falou para mim quando estávamos montando a academia, onde hoje é a nossa matriz em Itaquera, eu estava brincando com ele dizendo que ele não ia conseguir fazer. E então ele me falou assim: “Tudo que o homem faz o outro é capaz de fazer” e eu levo isso comigo, para a minha equipe e para a minha carreira.
Sou campeão mundial e existem atletas com dois títulos, e eu também sou capaz. Existem atletas com quatro títulos mundiais, e eu também sou capaz de fazer. Existem equipes campeãs mundiais com atletas bem-sucedidos, e eu também sou capaz de fazer. É atingível, e eu sou capaz de fazer!
Além do tatame, quem é você fora do mundo do Jiu-Jitsu? Como é sua rotina nas horas livres e o que gosta de fazer para relaxar e recarregar as energias?
Além do tatame? É até difícil de responder. Fora do tatame, eu sou pai e eu sou marido. Eu acho que são essas duas personas que sobram de mim.
Aos finais de semana, eu vou para igreja, fico com meus filhos e tenho meu tempo de qualidade com eles. Porque o jiu-jitsu consome muito o meu tempo. Eu tenho que treinar muito, eu tenho que ensinar muito, eu tenho que dar aulas, eu tenho que fazer a parte administrativa e eu tenho que cuidar de pessoas. Então, isso consome muito meu tempo e aí a outra persona que sobra de mim é o pai e o marido.
Quais são suas técnicas de concentração durante as competições? Como você se prepara mentalmente para os campeonatos?
A minha técnica de concentração principal é o treino diário. Com o tempo, eu entendi que a confiança não pode ser vestida numa máscara, ela vem no trabalho duro. Então, se você não treinar muito e só vestir uma máscara de “eu sou campeão, eu sou o melhor, eu vou vencer”, quando chegar lá na hora, isso não será uma realidade, essa máscara vai cair e o que vai vir é a verdade.
Então, minha técnica de concentração é trabalhar com a verdade. O que é verdade? Eu me alimentei bem, eu treinei todos os dias, treino há anos, e sou muito esforçado. Eu dou o meu melhor todos os dias, e treino até aos domingos, então eu mereço ser o campeão, eu sou campeão. Quando eu entro lá, isso não é uma máscara, ela não cai. Eu me concentro dentro disso, desse fato.
Como sua relação com a alimentação mudou desde que se tornou um atleta profissional?
Alimentação está diretamente ligada à alta performance, não tem como fugir disso. Por muito tempo, perdi muitas competições porque me alimentava mal, mas não era por desleixo e sim porque não tinha conhecimento do que é uma alimentação balanceada.
Eu vim de baixo, vim da periferia, então, até chegar no nível de ter um nutricionista, já estava praticando jiu-jitsu há nove anos e já tinha enfrentado muitas dificuldades. O atleta sem acesso à informação não sabe a diferença entre carboidrato e proteína, não compreende a importância de ter legumes ou vegetais na dieta, não entende o que é um déficit calórico.
Só quando tive acesso a um nutricionista e a um treinador físico, minha qualidade começou a mudar. Tanto que o primeiro Mundial que venci foi em 2012, sendo que comecei a treinar jiu-jitsu entre 1999 e 2000, e depois venci três vezes no Mundial em Abu Dhabi, em 2018, 2021 e agora em 2023.
Isso é algo que já não deixo acontecer com meus atletas. Desde a faixa colorida, eles têm acompanhamento com um nutricionista, porque uma alimentação balanceada faz muita diferença.
Tanto que conheci a ComoAmo através da alta performance. Estava lutando o Pan-Americano nos Estados Unidos e falei com minha aluna Maria, que também é patrocinada pela marca, que eu precisava comer um doce porque estava muito ansioso, mas não podia ingerir açúcar na pré-competição. Ela disse que tinha um chocolate sem açúcar, então comi e era maravilhoso, era um Snack da ComoAmo. E foi assim que começamos todo esse relacionamento.
Como é sua rotina de cuidados com a saúde e alimentação durante os períodos de competição?
É rotineiro mesmo. Não tem algo que possamos fazer a mais dentro disso porque você acaba entrando numa rotina de qualidade de vida, sabe?!
Então, eu tenho essa rotina de alimentação e de suplementação. Eu não como nada fora da dieta, não bebo álcool, não tem nada fora da dieta para competição. O café da manhã é com ovos, pães, frutas. A minha marmita no almoço, do lanche da tarde pré-treino e da janta são pesadas e totalmente balanceadas pelo meu nutricionista. Então, é um cuidado excessivo que nós temos para conseguir performar.
Como é ser um atleta profissional no Brasil? Você acredita que o país precisa melhorar suas políticas de incentivo ao esporte?
Ser um atleta no Brasil é muito difícil. Nós atletas não temos apoio e pouco patrocínio para conseguir custear as academias para fazer os treinos. No Brasil, o atleta tem que pagar tudo do próprio bolso: nutricionista, treinamento físico, academia de jiu-jitsu, taxa de inscrição de campeonato, viagem, hospedagem e alimentação.
Poucos atletas conseguem atingir o nível de ter apoios profissionais para conseguir custear os gastos. Em alguns países as pessoas viajam representando sua nação nas competições, muitas das vezes com tudo pago, tendo salário, casa, comida e treino. Aqui no Brasil, o atleta, às vezes, não tem nem roupa para vestir. É uma forma muito amadora e sem apoio, muitos atletas mudam de país para poder continuar vivendo esse sonho.
Sem sombra de dúvida, precisávamos de mais apoio e isso é um dos motivos que eu perco muitos atletas. Eu formei muitos campeões mundiais que muitas vezes tiveram que sair porque não tinham como viver da luta, não conseguem nem sobreviver com o que ganha no jiu-jitsu.
Essa é a minha maior batalha conseguir patrocínio e padrinhos para conseguir apoio para os meus atletas.
Qual conselho você daria para os jovens que desejam se tornar atletas de destaque e representar o Brasil no Jiu-Jitsu?
O conselho que eu daria aos jovens que desejam se tornar atletas de destaque e representar o Brasil no jiu-jitsu é trabalhar e treinar duro e saber dizer não, o vencedor tem o não na boca. Tem que saber dizer não para o que você quer hoje para poder dizer sim para o que você mais deseja na sua vida amanhã.
Tem que treinar todos os dias e se alimentar muito bem. Não desista porque a estrutura no Brasil é pouca e vai faltar dinheiro e condições para seguir com os treinos, porém a dor do processo gera fruto no final e vai valer a pena continua sempre.