O legado das atletas femininas nas Olimpíadas de Paris
29/08/2024 • 5 min de leitura

O legado das atletas femininas nas Olimpíadas de Paris: mulheres de ouro no pódio da sororidade

*Foto: Gabriel Bouys/AFP

As Olimpíadas de Paris 2024 se tornaram o palco para a potência das atletas femininas brasileiras e enalteceu o poder universal da sororidade.

As Olimpíadas de Paris 2024 chegaram ao fim e, cá para nós, ainda estamos tentando superar a grandiosidade dessa edição. Isso porque, além de testemunharmos competições emocionantes, tivemos a oportunidade de assistir a um marco histórico para o esporte feminino brasileiro, com uma edição que destacou o poder e a determinação das mulheres no esporte.

No Brasil, nossas atletas deram um show e nos encheram de orgulho. Das 20 medalhas conquistadas pelos brasileiros, 11 foram obtidas por mulheres. Sim, mais da metade! Além das medalhas e recordes históricos, elas deixaram um legado profundo, contribuindo para o futuro do atletismo feminino no país.

O que foi ainda mais inspirador? O espírito de sororidade que brilhou em cada momento dessa edição. Em cada competição repleta de respeito, nas entrevistas com troca de elogios ou no pódio com olhares e demonstração de admiração, o espírito de sororidade e apoio mútuo foi evidente e admirável. Isso não só enriqueceu as competições, mas também enviou uma mensagem poderosa ao mundo sobre como as mulheres podem ser exemplos de união e respeito no esporte e na vida.

Entre tantas demonstrações de irmandade, como não se emocionar com a cena lendária de Simone Biles e Jordan Chiles fazendo referência no pódio à nossa Rebeca Andrade, que brilhou e nos encheu de orgulho ao conquistar uma medalha de ouro com uma apresentação impecável e cheia de carisma? Uma imagem que rodou o mundo e emocionou milhares de pessoas que pararam por alguns segundos para admirar um dos maiores símbolos de sororidade entre três mulheres negras em um pódio de gigantes.

E o impacto? Foi tão forte que, durante as competições das nossas ginastas, as academias e projetos de ginástica artística no Brasil esgotaram suas vagas em poucos dias. Isso é apenas uma prova da força da representatividade feminina no esporte e em qualquer área que as mulheres desejem conquistar, além da importância de incentivar e apoiar nossas meninas em todos os segmentos da vida.

 

A história das conquistas olímpicas das atletas femininas

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* Foto: Franck FIFE / AFP

Mas, por que as Olimpíadas de 2024 foram tão importantes na luta das mulheres por direitos igualitários? Para entender o impacto das conquistas femininas nesses Jogos Olímpicos, precisamos trazer à tona a quão árdua foi a luta das mulheres dentro do cenário olímpico.

Todo o processo de conquista das atletas femininas levou anos para se concretizar. Para se ter uma ideia, os primeiros Jogos Olímpicos modernos foram realizados em 1896. No entanto, segundo dados do Comitê Olímpico Internacional (COI), apenas em 1900 as mulheres puderam competir, representando apenas 2,2% do número total de participantes daquela edição.

Foi somente em 2012, mais de um século depois, nos Jogos Olímpicos de Londres, que 44% dos participantes eram mulheres. Vale lembrar que as barreiras enfrentadas pelas mulheres não estavam presentes apenas nas competições. Segundo dados da ONU Mulheres, somente em 2022 os assentos das comissões do Comitê Olímpico Internacional foram ocupados por 50% de representantes mulheres.

Para mulheres atletas a jornada em busca do pódio esbarra em barreiras socioculturais que exigem delas mais do que preparo em seu esporte de competição. Para as atletas mulheres, em especial, as atletas negras, refugiadas e periféricas, a falta de patrocínio e marginalização é um grande dificultador do processo. Além disso, elas ainda precisam lidar com o preconceito social de estarem presentes em determinados esportes, que para o olhar discriminatório social, são esportes masculinos, e por isso, são julgadas em seus desempenhos ou quando precisam se afastar quando sofrem de sobrecarga mental ou até mesmo quando desejam engravidar.

Muitas mulheres enfrentam ainda violência psicológica e sexual no ambiente esportivo, prova disso foi o escândalo do caso Larry Nassar, médico da seleção olímpica americana que abusou sexualmente de mais de 70 meninas, muitas delas com menos de 15 anos de idade.

Portanto, quando vemos as cenas de mulheres de diversas partes do mundo subindo ao pódio, atletas da Etiópia e do Quênia, uma refugiada sendo medalhista de ouro e representando o país que a acolheu, ocupando um pódio de mulheres negras na cerimônia de encerramento de uma edição olímpica, estamos transmitindo ao mundo uma mensagem sobre o poder da luta feminina e a importância do apoio e do incentivo na luta por direitos igualitários ao longo da história.

Cada nome de atleta feminina que brilhou em Paris entrou para a lista célebre de mulheres extraordinárias que quebraram todas as barreiras impostas pelo patriarcado com seu ativismo, genuinidade, talento e determinação. Elas se tornaram símbolos de representatividade para meninas que agora têm um caminho mais próspero para alcançar pódios ainda mais altos no esporte e na vida.

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