Como a escalada das guerras afetam a segurança global, desestabilizam a geopolítica e geram uma das maiores crises humanitárias já registradas.
Em fevereiro de 2022, o mundo se deparou com o início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, um conflito que abalou as estruturas da diplomacia mundial, acendendo um alerta sobre a atual incapacidade de diálogo entre as nações. Novamente este ano, vimos surgir outro triste cenário de guerra: o conflito entre Israel e a Faixa de Gaza que já deixou milhares de mortos e um número assustador de deslocados.
Essa escalada de tensões traz à tona uma realidade assustadora sobre a segurança global, o enfraquecimento da ONU no combate à guerra e na luta pela manutenção da paz entre os povos. Mesmo com todos os esforços e empenho de seus dirigentes e de nações neutras, como o Brasil, nenhum acordo de paz foi alcançado até o momento entre os países envolvidos nos conflitos recentes. Isso mostra que talvez estejamos enfrentando uma ruptura histórica do maior órgão criado em prol da manutenção da paz do mundo.
O cenário é ainda pior quando saímos dos holofotes dos países emergentes e desenvolvidos e voltamos nosso olhar para outras regiões do mundo que há décadas enfrentam conflitos sangrentos, mas que não atraem a atenção das grandes potências mundiais por ocorrerem em nações subdesenvolvidas. Segundo dados do Uppsala Conflict Data Program (UCDP) o mundo enfrenta hoje 8 grandes guerras.
Países como a Síria, Afeganistão, República Democrática do Congo e o Iêmen estão presentes desta lista e seguem sem previsão alguma de saírem. Mas, o que esses países têm em comum? Além da extrema pobreza e da vulnerabilidade de seus sistemas políticos, não há uma ameaça iminente de uma escalada envolvendo grandes potências nesses conflitos, o que influenciam diretamente no interesse da resolução definitiva dessas disputas. Isso explica ainda a falta de visibilidade que essas regiões possuem nos veículos de comunicação, o que só contribui para o prolongamento desses conflitos que já duram décadas.
Como as guerras afetam a economia global e a segurança alimentar
Essa escalada de conflitos, além de causar milhares de vítimas, em sua maioria crianças, também gera um impacto crucial no desenvolvimento econômico e alimentar mundial. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas a guerra entre a Rússia e a Ucrânia até o final deste ano deve custar US$ 2,8 trilhões em produção perdida para a economia global, afetando nações diretamente envolvidas ou não nos conflitos.
Além disso, as guerras são uma das maiores causadoras do deslocamento forçado de pessoas, que ao abandonarem seu país de origem em nome da própria sobrevivência, se deparam com um cenário cruel de vulnerabilidade e choque sociocultural. Esse movimento também afeta os países receptores, que ao acolherem um número elevado de refugiados, se deparam com uma pressão significativa em seus recursos locais, incluindo em sua infraestrutura, serviços públicos e mercado de trabalho.
A pobreza extrema é outra triste realidade para as vítimas nas regiões de conflitos armados. O cenário hostil da guerra destrói meios de subsistência humana, impedindo o acesso a serviços básicos e dificultando a recuperação econômica dos países afetados. Além disso, resulta na hiperinflação e no colapso econômico, tornando os bens e serviços básicos completamente inacessíveis. Esse impacto ultrapassa as fronteiras dos países envolvidos nos conflitos e afetando os preços globais de commodities e gerando também instabilidade e flutuações nos mercados internacionais.
O efeito dominó da guerra desestabiliza também a cadeia de fornecimento de alimentos no mundo. De acordo com o Relatório Global sobre Crises Alimentares de 2023, os conflitos deixaram cerca de 117 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar aguda em 2022. As guerras estão causando a interrupção da produção agrícola nas regiões afetadas, dificuldades de acesso aos alimentos e a alta dos preços dos alimentos ao redor do mundo colocando os conflitos armados como um dos maiores causadores da insegurança alimentar aguda da atualidade, ultrapassando fatores como a crise climática e a instabilidade econômica.
A pressão social precisa ser vista como uma arma eficaz no combate a instabilidade da paz mundial. É fundamental que as grandes potências em conjunto com a sociedade global impulsionem o fortalecimento da ONU, que precisa voltar a ter uma voz mais ativa dentro das rodadas de negociações em prol da paz e da igualdade social. O fortalecimento do diálogo entre as nações ainda é a forma mais eficaz de alcançar a prevenção de conflitos e a proteção às vítimas que sentem na pele as consequências desses crescentes atos de desumanidade.