Conheça a história artística do grande pintor Di Cavalcanti e como sua trajetória contribuiu para a exaltação da cultura brasileira.
Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, conhecido por Di Cavalcanti, foi um dos mais brilhantes pintores brasileiros, conquistando espaço na história da arte com contribuições artísticas e sociais imensuráveis para a nossa cultura. Nascido no dia 6 de setembro de 1897, no Rio de Janeiro, Di Cavalcanti já apresentava em sua infância um dom artístico extremamente apurado, iniciando sua trajetória profissional muito jovem com sua primeira caricatura publicada na revista carioca Fon-Fon.
Autodidata e politicamente ativo, Di Cavalcanti não se limitou apenas a pintura, se destacando também por seu trabalho como ilustrador, desenhista, caricaturista, jornalista, escritor e poeta. Sua longa lista de habilidades deu a ele honrarias que perduram por gerações. Amigo de figuras ilustres como Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Mario de Andrade, Anita Malfatti e Victor Brecheret, Di Cavalcanti ficou conhecido como o pintor modernista que mais exaltou costumes populares do país apresentando ao mundo a realidade do Brasil com muita beleza e intensidade.
Seus quadros possuem uma identidade ímpar, marcada por traços precisos e imponentes, por cores vívidas e pela representação de temas tipicamente brasileiros, trazendo toda beleza do samba, da periferia, do carnaval e do tropicalismo do país em suas obras. O talento de Di Cavalcanti ficou conhecido por todo o mundo, tendo seus quadros expostos e admirados em grandes galerias no exterior como Bruxelas, Paris, Londres e Amsterdam. Em uma de suas viagens conheceu personalidades como Matisse e Pablo Picasso, onde adquiriu influências cubistas e surrealistas em suas obras.
Di Cavalcanti além da pintura
Em São Paulo idealizou e participou de um dos maiores movimentos culturais já registrados no país, a Semana de Arte Moderna de 1922 (leia mais aqui), onde conquistou o título do melhor pintor nacional recebendo diversos prêmios por suas obras. Sua arte foi além das telas, como ilustrador, enriqueceu as obras de Mario de Andrade, Vinicius de Morais e Jorge Amado.
Teve um importante papel na política brasileira, combatendo a ditadura militar no país. Foi preso e exilou-se na Europa para fugir de perseguições políticas que o ameaçavam e mesmo a distância seguiu defendendo seus ideais de liberdade e igualdade para os brasileiros. Di Cavalcanti faleceu no dia 26 de outubro de 1976, aos 79 anos de idade, no Rio de Janeiro, deixando seu legado artístico e social cravado na história da arte.
Sua ideologia social contribuiu para um país livre de um período obscuro marcado pela ditadura, ao mesmo tempo que colocava a cultura nacional no topo dos holofotes artísticos mundiais, tudo isso graças a seu talento inquestionável e seu verdadeiro amor pela pátria.
Em 1963, o escritor Vinicius de Moraes dedicou ao seu grande amigo um poema que foi retratado no curta metragem de 1977, dirigido por Glauber Rocha, onde homenageava a luta do pintor pelo fim das amarras desumanas da ditadura.
“Amigo Di Cavalcanti
A hora é grave e inconstante.
Tudo aquilo que prezamos
O povo, a arte, a cultura
Vemos sendo desfigurado
Pelos homens do passado
Que por terror ao futuro
Optaram pela tortura.
Poeta Di Cavalcanti
Nossas coisas bem-amadas
Neste mesmo exato instante
Estão sendo desfiguradas.
Hay que luchar, Cavalcanti
Como diria Neruda.
Por isso, pinta, pintor
Pinta, pinta, pinta, pinta
Pinta o ódio e pinta o amor
Com o sangue de tua tinta
Pinta as mulheres de cor
Na sua desgraça distinta
Pinta o fruto e pinta a flor
Pinta tudo que não minta
Pinta o riso e pinta a dor…”