Muito se fala que o questionário populacional é de extrema importância para a sociedade. Mas, afinal, para que serve o Censo do IBGE?
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) foi criado em 1938, com o objetivo de levantar dados através de estudos quantitativos e qualitativos sobre a população e o território brasileiro. E por meio desses resultados são definidas as políticas públicas do país, servindo como diretrizes para se criar garantias de direitos em diversos segmentos, como emprego, renda, saúde, educação, direitos humanos, entre outros.
Assim, o Censo Demográfico é realizado a cada dez anos, com pesquisa presencial, feita por servidores públicos com o intuito de colher o máximo de informações possíveis sobre a população e cada região de forma que os dados possam contribuir para uma visão macro da população e das necessidades de cada região dentro das políticas sociais.
Em 2020, o Censo deveria ter sido realizado, mas por causa da pandemia ele foi suspenso, devendo ser realizado em 2021, porém além do atraso, ele também sofreu um corte orçamentário significativo de 96%, o que inviabilizou a realização do mesmo. Ficou então para esse ano, a então realização do Censo, porém outro fator importante pode impactar os resultados para uma parte muito importante da sociedade.
Esse corte vem em um cenário governamental onde, às vésperas das eleições, uma PAC, conhecida como PAC “camicase” aprovou um orçamento maior que 40 bilhões de reais para ações sociais visando fornecer um apoio financeiro a pessoas em situação de vulnerabilidade financeira. Claro, essa ajuda financeira é essencial para muitas pessoas na atual situação de crise em que o país se encontra, o problema é que a verba excede o teto de gastos e tem fortes indícios de ser uma medida eleitoreira já que conta com prazo de validade, encerrando após as eleições.
Esse fato revela que quando há interesse do governo, o investimento para ações públicas existe e o Censo, mesmo com sua importância, não está dentro das prioridades para políticas públicas governamentais, já que sua relevância, mesmo que imprescindível, não é capaz de gerar votos em um ano eleitoral.
Por que a não realização do Censo é tão preocupante?
É importante reforçar que sem a realização do Censo pelo IBGE, o Brasil sofre com um “apagão” de dados e informações sobre o desenvolvimento do país nos últimos anos. Isso faz com que os problemas sociais sejam mascarados e impede que se possa fazer investimentos estratégicos e inteligentes buscando melhorias nos setores que mais precisam de recursos para desenvolvimento social.
Porém, em 2022 ainda não existe no Censo questões sobre orientação sexual ou voltadas para o público LGBTQIA+, o que deixa essa parte da população fora das políticas públicas que visam dar mais direitos e oportunidades a este público. Mesmo com a justiça ordenando que fossem incluídas questões sobre o tema no questionário, o IBGE informou não ser possível adicionar alegando falta de orçamento. O problema é: se esse público não for incluído no Censo deste ano, terá que esperar mais dez anos para sair da invisibilidade.
O IBGE alega que incluir dados de última hora para uma área que nunca foi estudada anteriormente, acarreta uma necessidade de equipe especializada e todo um levantamento de dados que gera um custo imprevisto e que para isso, seria necessário um novo adiamento no Censo. Isso pode gerar ainda mais atraso nos dados que são altamente importantes para a organização orçamentária da próxima década.
É importante que a sociedade fique atenta a realização do Censo, cobre e acompanhe as realizações dentro dos períodos estabelecidos e que ele seja atualizado de acordo com as necessidades populacional. Essa é uma ferramenta importante para a diminuição da desigualdade e, através dele também, é possível desenvolver estudos que contribuam para um avanço em leis e projetos que auxiliem faixas mais desfavorecidas da sociedade.
O impasse segue sobre a realização ou não do Censo de 2022, que tem data prevista para acontecer no dia 01 de agosto. Devemos acompanhar de perto, pois a sua realização, ainda que importante, será feita de forma deficiente já que conta com baixo orçamento e segue excluindo uma parcela importante da sociedade que há décadas vem sendo ignorada.
Agora se for adiado novamente, teremos que conviver com o atraso da pesquisa, que ocasiona também uma perda significativa de informações necessárias para um olhar efetivo e construtivo da sociedade. De uma forma ou de outra, o Censo atual segue com perda importante para todos nós.
É importante que tenhamos essas informações em mente, para que a cada novo governo possamos cobrar o investimento e importância adequada para esse Instituto que tem como principal função, colocar luz sobre a sociedade brasileira e as suas desigualdades.